O Fortaleza está lidando com um desafio desde a venda do atacante Moisés para o Cruz Azul, do México, realizada no final de maio. Após os 10 jogos disputados desde então, o clube ainda não conseguiu encontrar uma reposição adequada para seu principal atacante. Ao longo das partidas, Vojvoda testou jogadores na posição, tentou variações táticas e “cobrou” reforços para suprir sua ausência.
Em maio, o Fortaleza havia renovado o contrato de Moisés até 31 de dezembro de 2025, com opção de renovação por mais um ano. Anteriormente, o jogador tinha vínculo com o clube até o final de 2024. A multa rescisória estipulada para Moisés era de 5 milhões de euros. A transferência do atleta, no valor de cerca de R$ 24,5 milhões, foi a maior venda da história do futebol nordestino em termos absolutos, com 90% dos direitos econômicos do jogador negociados, enquanto o Fortaleza manteve 9% e a Ponte Preta ficou com 1%.
Moisés conquistou a posição de titular em 2022 e teve um bom desempenho naquela temporada. Ao todo, o atacante acumulou 85 jogos, 21 gols e nove assistências pelo tricolor. Durante sua passagem pelo Fortaleza, conquistou três títulos, sendo o último o pentacampeonato cearense inédito, além do Campeonato Cearense de 2022 e da Copa do Nordeste, ambos de forma invicta.
Foto: Mateus Lotif/Fortaleza EC
Dor de cabeça
“São coisas que acontecem no futebol. Moisés, para nós, era de grande ajuda. No entanto, temos que encontrar uma solução para a sua ausência. Sou o primeiro a ter que encontrar uma solução. Podemos mudar o sistema, procurar outro jogador ou adotar uma estratégia diferente. É isso que faremos durante os treinos da semana”. Foi assim que Vojvoda definiu a saída de seu principal atacante e aceitou o novo desafio de suprir sua ausência. Como dito pelo comandante leonino: novos sistemas, outros jogadores e inovações estratégicas foram testadas para manter ou elevar o nível da equipe.
Foto: Mateus Lotif/Fortaleza
A principal marca do ex-Fortaleza era trazer mobilidade para o ataque e alcançar destaque por sua velocidade e jogadas individuais para superar a marcação adversária. Para tentar manter as mesmas características, Vojvoda iniciou testando os extremos Guilherme e Romarinho que, pelo menos em tese, possuem características muito próximas. Porém, o Fortaleza não encontrou nos dois o encaixe ideal, posto que o rendimento não alcançou o que entregava o camisa 21.
Se a ideia é manter, de fato, as características sem perder o rendimento, o Fortaleza vai ter que entrar de cabeça no mercado para trazer um novo ponta que chegue para assumir a titularidade. No momento, o nome da vez é Imanol Machuca, de 23 anos, que tem vínculo com o Unión de Santa Fé até o fim de 2025. Além de meia, o atleta joga também como ponta esquerda e ponta direita. Na atual temporada, até aqui, fez 23 jogos, marcou cinco gols e deu uma assistência. Dentre as especulações, é o que mais se aproxima do estilo de Moisés.
Foto: Franco Perego/Unión Santa Fé
Os dez confrontos sem Moisés
O primeiro duelo ocorreu justamente no dia de anúncio da venda do atleta ao Cruz Azul, no jogo de volta ante o Palmeiras pela Copa do Brasil. Na ocasião, Vojvoda realizou o seu primeiro teste, com Guilherme atuando pelo lado esquerdo, Pikachu na direita e manteve dois atacantes, Galhardo e Lucero, dupla que se repetiu em outras ocasiões e também tem questões de encaixe para serem resolvidas. O Fortaleza venceu o jogo por 1 a 0, mas foi eliminado por ter sido derrotado por 3 a 0 no jogo de ida. Um jogo mais difícil de analisar pelas características, mas que não deixou a desejar.
Na sequência, o tricolor passou por três jogos muito abaixo do que vinha rendendo. Inicialmente, empatou sem gols com o Bahia no Castelão. Na posição de moisés estava Romarinho, que não foi bem, e durante o jogo deu vaga a Guilherme, que também não conseguiu criar. Até ali, a formatação do ataque, que variava entre a 4-4-2 e a 4-2-3-1 se mantinha, mas faltava criatividade.
Nos outros dois confrontos da sequência negativa, onde o tricolor foi superado pelo Independiente de Mérida por 1 a 0 e pelo Botafogo por 2 a 0, Vojvoda tentou algo diferente: Calebe, que vinha atuando pelo lado direito e pelo meio, foi testado pela esquerda. Em questão de qualidade técnica, o jogador demonstrou ser superior às outras opções, até pelo que já vinha mostrando em funções diferentes, mas era nítido a falta de profundidade que a alternativa dava para a equipe. Por característica, Calebe é mais técnico, canhoto e gosta de construir as jogadas pela faixa central, sem ir na linha fundo. Jogou bem, mas taticamente não funcionou.
Em seguida, o tricolor conseguiu respirar após uma ótima sequência de três vitórias, então vamos aos diferenciais táticos nesses duelos, que não indicam um problema resolvido pelo lado esquerdo do ataque. Nos três confrontos, a equipe voltou a utilizar uma saída de bola com três zagueiros e a preencher seu meio de campo com mais homens – situação mais difícil após a lesão de Hércules pelas poucas opções boas para as funções -.
Dessa forma, o tricolor amenizou a dependência pelo lado esquerdo, mas também não conseguiu ser dominante durante a partida, pelo contrário, teve menos posse de bola nas três ocasiões (vitórias sobre Cruzeiro, Atlético-MG e Palestino) e sofreu investidas que poderiam ter resultado em gols. A consistência defensiva e as modificações de Vojvoda nas etapas finais foram pontos importantes para conquistar pontos. Vale ressaltar que a equipe só marcou gols na primeira etapa em 2 dos 15 jogos do campeonato brasileiro, então a baixa produtividade ofensiva na primeira etapa também deve ser observada.
Nos jogos seguintes, Vojvoda tem mantido a dupla Thiago Galhardo e Martin Lucero no ataque e improvisado Tomás Pochettino pelo lado esquerdo. Porém, se observarmos o posicionamento médio dos atletas durante o jogo, o meia argentino pouco fica no lado do campo, atua praticamente como mais um meia central. A profundidade da equipe por vezes inexiste. O suspiro ofensivo tem sido as investidas pelo lado direito com o novo reforço, Marinho, que tem um início participativo, mas ainda precisa se adaptar coletivamente.
Os reforços do Fortaleza na janela
O Fortaleza já anunciou cinco contratações na atual janela: o zagueiro Tobias Figueiredo, o lateral-esquerdo Gonzalo Escobar, o volante Pedro Augusto, o meia Kauan e o atacante Marinho. Entre esses, é possível destacar que Marinho chegou para jogar pelo lado direito e não é uma alternativa ao Moisés. Kauan, atleta de 18 anos que estava no Goiás, é um meia de criação, mas foi testado como ponta esquerda no sub-20, o que pode ter sido um pedido de Vojvoda.
“Nós estamos procurando alguma oportunidade que possa nos ajudar. Perdemos o Moisés, e essa posição pode ser uma opção. Mas também há outras opções, que em determinado momento desta janela surgiram oportunidades que o Fortaleza soube aproveitar”, disse o técnico.