Foto: Felipe Carneiro
“Em que o futebol se parece com Deus? Na devoção que desperta em muitos crentes e na desconfiança que desperta em muitos intelectuais”, Eduardo Galeano.
Desde o dia 16 de maio a Bundesliga está tendo partidas de futebol, inclusive já com campeão confirmado: O Bayern de Munique levou seu oitavo título consecutivo. O Campeonato Alemão foi a primeira liga do Top-5 da Europa a voltar após a paralisação devido a pandemia do novo coronavírus. Antes, a Coreia do Sul tinha dado o pontapé inicial da volta do futebol. A liga coreana teve até transmissão de emissoras do Reino Unido. No último final de semana, a Série A da Itália voltou e fechou o ciclo das grandes ligas europeias que retornaram. A exceção é a Liga Francesa, que foi dada por encerrada e o título cedido ao PSG de Neymar. A Premier League tinha voltado na quarta-feira, 17.
E aqui no Brasil, quando o futebol vai voltar? Esta pergunta nem as autoridades devem saber, mas como se dobram a força política dos clubes e fazem o que estes esperam, ignorando as autoridades sanitárias, o futebol por aqui deve retornar nas próximas três ou quatro semanas. Dentro deste período, todos os estados devem ter voltado com seus campeonatos. Isso é o que jornalistas que cobrem o dia a dia da Confederação Brasileira de Futebol(CBF) dizem ser o desejo da entidade.
Quando surgiu o primeiro caso de Covid-19 no Brasil, os brasileiros pensaram até em estocar vento, com medo de contrair o vírus. Hoje com mais de 1 milhão de casos confirmados da doença e com o número de mortes ultrapassando 50 mil, as pessoas pregam uma normalidade que não existe. Dizem que o nosso país não deve chegar ao nível de alguns países do velho continente. Enquanto a Itália não chegava a 255 casos(diário) confirmados na última sexta-feira, 19, o Brasil passou de 1000 mortes (fonte: consórcio de imprensa).
Aqui, os clubes começam a voltar aos treinamentos.E estão certos. Os protocolos criados dentro dos CTs e Estádios são fora da realidade. Nenhum outro ambiente da sociedade é tão seguro quanto o do futebol. São realizados testes quase que semanalmente nas pessoas envolvidas. As vezes incluindo até os familiares dos atletas. Antes das partidas, todos os jogadores envolvidos na peleja são testados. Diria que as chances de contágio são de quase zero. Para se ter uma ideia, Jorge Jesus, desde que o Flamengo voltou aos treinamentos, já realizou mais de 15 testes de Covid-19.
Aos que dizem que o atual campeão da Libertadores não é parâmetro, os clubes menores tem suporte de suas federações que nem o Ministério da Saúde oferece aos seus médicos e enfermeiros. Nenhuma outra indústria testa os seus funcionários como a do futebol.
O futebol deveria ser o motivo de não sairmos do isolamento. A forma como o esporte voltou na Europa e vai voltar no Brasil, demonstra que precisamos entender que nada está normal. Além do que foi dito acima, o futebol voltou sem torcida. O futebol sem torcida só não é pior que velório, como o que aconteceu na última quinta-feira, 18, no jogo Flamengo 3 x 0 Bangu no retorno do Estadual do Rio de Janeiro. Ninguém pensa a volta do futebol sem o torcedor, porque as coisas estão dentro de uma normalidade. A torcida é a essência do futebol. Ela é máquina que faz essa indústria girar, sejamos conscientes.
Sem torcida e com testes que nem médicos e enfermeiros estão fazendo na luta para salvar vidas de pessoas com Covid-19, o esporte nacional escancara que é um mundo com outra realidade dentro do Brasil. O futebol não pode ser parâmetro para nenhuma outra área da indústria e nem para invenção de que as coisas estão bem.
Aqui no Brasil, quando o futebol voltar, o que deve ocorrer depois do dia 15 de julho, esse movimento não deve ser entendido como a volta da normalidade. Neste caso do Covid-19 e pandemia, a ideia de que a volta do futebol é o decreto que consolida a vida no “novo normal” é totalmente errada, uma vez que o ambiente que criaram em torno dos jogadores não existe para nenhum frequentador de metrô, terminais de ônibus, shopping centers, indústrias e mercados públicos.
A desigualdade existente é tão grande quanto a miséria deste país. Sejamos inteligentes e preguemos o bom senso. Os protocolos em torno da volta do futebol escancaram as desigualdades do Brasil. O esporte mais popular do mundo só deve ser usado como ferramenta política para combater injustiças sociais e ações antidemocráticas.
A falta de planejamento dos órgãos de saúde do Brasil não reflete o que são os protocolos no “país do futebol”. No Brasil as coisas estão voltando sem os devidos cuidados com a saúde pública. Indústrias e empresários não tratam seus funcionários com as regalias que os atletas e funcionários do esporte bretão são tratados. Estes moram em outro mundo ou em outro país.Traduzido para a língua da boleiragem: eles vivem em outro patamar.